Na estante

"Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa sangrar (...)
Estou aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia,
e não adianta nem me procurar em outros timbres, outros risos,
eu estava aqui o tempo todo só você não viu!(...)
eu não ficaria bem na sua estante."
(Pitty)


Parece uma comparação superficial, mas todo mundo já teve ou já foi estante para alguém. Como? Para que serve estante? Especialmente pra guardar livros que você já leu ou não leu porque não lhe interessou, ou ganhou mas quis deixar ali de enfeite sempre ao alcance da mão.

 Independente da assiduidade que você se predispõe a ler, em um dia de tédio, no dia em que perdeu o horário do seu programa de tv favorito, em que a internet falhar ou que você não tem texto na lista "pra por em dia", você vai lá, percebe aquele livro que nunca vai considerar o melhor, aquele que não vai ocupar sua cabeceira, e dá uma "pegadinha" básica pra passar tempo.

Até então nenhum problema, temos o direito de selecionar o que consideramos melhor leitura. O problema é quando ao invés de livros "alocamos" pessoas.  E a maioria das "estantes" comemoram cada gesto de seu dono, passeadinha pelas mãos então... acredita em toda migalha oferecida como indício de possibilidades.

 Quem se sujeita a ser "estante" da pessoa amada não ganha pontos ao se subjugar, ao parecer cachorrinho que abana o rabinho cada vez que o dono chama.  Cachorrinho nunca vai deixar de ser cachorrinho, melhor amigo de praxe, fiel e presente em todos os momentos quer para diversão ou carência afetiva. Ahhh, é posse, e por mais que o dono goste do cachorrinho, ele nunca se tornará o namorado/a do dono, porque o dono nunca o enxergará como um igual.

O tempo e a poeira não serão capazes de modificar a essência de sua capa e do seu conteúdo ainda que o livro tenha se predisposto a agradar.

Quem nunca passou por isso? Eu já fui estante e posso ainda estar sendo, já coloquei em pratileira e acredito que reconhecer é o melhor processo para alcançar alguma dignidade tanto a quem está  brincando com os sentimentos alheios quanto a quem se sujeita a ser "cachorro". Como os "donos" não estão sendo íntegros ao  submeter sentimentos ao seu egoísmo, "cachorrinhos" não ganham respeito, pois ele/ela não vai acordar um belo dia e descobrir o amor que sente por você, nem declarar amor eterno.

Estantes são o que são: lugar para se organizar. Se essa acaso for uma  condição compatível com  a  que você quer depor sua dignidade ao longo da vida,  eu sinceramente espero que você reaja antes que "seu dono" decida te trocar, aumentar o nível de desvalorização.

Estantes existem simultaneamente, aos montes... Mariana é estante de Pedrinho que também é dela, até que  Joãozinho dê trela, que por hora cumpre função com Joanna que pensa em... Mas será que ninguém se engana e fica todo mundo "feliz"? Se tem sentimento envolvido, tem a esperança de que um dia as coisas sejam  diferentes...NÃO SE ILUDA. ELAS NÃO SERÃO!

Comentários

  1. Oi Lay!!! Mto legal esse post....
    acho que tem havido mta banalização dos sentimentos....
    é aquela história de personificar objetos e "coisificar" pessoas...
    as pessoas se tratam (e aqui me incluo tb, infelizmente...) como objetos descartáveis, brincam com sentimentos alheios e não percebem como isso pode ser grave...
    só achei que ficou um pouco fatalista demais.. rsrsrs
    na minha opinião tudo tem solução... cê tá mto pessimista mulher... rsrsr
    bjos

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  2. ôh Thii, muito legal tua presença aqui!

    Nossa, falar em sentimentos é sempre complicado, não é?! Especialmente quando estamos nos acostumando com sua falta ou maqueando por insegurança de demonstrá-lo e não recebê-lo de volta. Brincar com sentimentos é sempre grave... e por mais fatalista que seja, em relação às estantes, a realidade é que "cachorrinhos" serão sempre "cachorrinhos" e que não se convence de sentimento, ou se sente ou não... então realmente a solução seria levantar da condição de estante e amar quem nos ama, não por interesse, mas como medida de sobrevivência.

    Por incrível que pareça eu sou uma das poucas românticas que restam, embora consciente. E eu acredito no amor, mais ainda, acredito que tem gente que ainda sabe amar... e que ele é a única forma de resolver tudo quando partilhado por dois.

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